A Mima House é como o “todo-o-terreno” das casas modulares. É que, além do preço semelhante ao de um automóvel, permite uma adaptação constante aos gostos dos utilizadores. E chamou já a atenção de mercados como Brasil, EUA e Chile.
Texto de Daniela Domingos
Fotografia de José Campos
Alguma vez se fartou das cores das paredes de sua casa, da disposição das divisões ou mesmo da falta de espaço? Que tal “brincar às bonecas”, mas à escala real? A resposta poderá passar pela Mima House, casa pré-fabricada da autoria dos arquitectos Mário Sousa e Marta Brandão, da Mima Architects, com sede em Viana do Castelo. Para trás, explicam os autores do projecto, ficam os entraves da arquitectura tradicional, como o difícil acesso ao arquitecto, o tempo de espera nas diferentes fases de construção e os elevados custos a ela associados. É de flexibilidade que se fala quando o assunto é a Mima House, ou não permitisse a sua estrutura alterar as cores das paredes, a composição das fachadas e o layout do espaço interno da casa, sem que para isso seja necessária a intervenção de técnicos especializados.
Até porque é à procura generalizada por «conforto, luminosidade, design e flexibilidade» que a casa procura dar resposta, adiantam Marta Brandão e Mário Sousa. As referências «credíveis, históricas e de qualidade», os arquitectos foram buscá-las ao Japão. «As casas tradicionais japonesas são centenárias e funcionam como organismos vivos mutáveis, que se adaptaram às mudanças da sociedade e se conservaram ao longo de séculos. O que permite isto é a sua estrutura simples de pilar e viga, sendo que todos os elementos constituintes são peças standard que podem ser substituídas sempre que se danificarem», esclarecem os responsáveis pelo projecto.
Pela sua morfologia adaptável, as Mima Houses permitem a criação de uma diversidade de espaços, conservando a sua ergonomia e aspecto. «O que fizemos foi adaptar esta ideologia a uma realidade ocidental baseada na mobilidade e diversidade», continuam os autores. Tornar a mutabilidade e a arquitectura de qualidade acessíveis a todos, ao mesmo tempo que se atribui aos utilizadores um papel criativo, enquanto arquitectos da sua própria casa, foram os principais traços de que os arquitectos procuraram envolver o seu projecto, que pretende ainda questionar a arquitectura tradicional.
A liberdade de intervenção dos clientes é, aliás, o elemento diferenciador da Mima House face às restantes casas modulares, já que o projecto foi desenhado de forma a que os utilizadores possam costumizar cada detalhe da casa, desde o início. Nesse sentido, foi criada uma plataforma virtual 3D, onde os interessados podem simular, de forma gratuita, todas as opções e visualizar na plataforma as maquetas da sua casa. E o processo não é fechado: mesmo depois de construída, a casa pode continuar a ser customizada.
Uma casa “todo-o-terreno”
Foram já vários os mercados que manifestaram interesse na Mima House, como o Brasil, Chile, EUA e Canadá, assumindo a maioria dos pedidos um carácter intercontinental. Procura que, segundo Mário Sousa e Marta Brandão, «só vem confirmar que as sociedades actuais, ainda que com diferentes backgrounds, encontram um denominador comum nas características que buscam para a sua casa, a sua arquitectura».
Os arquitectos vão mais longe ao comparar a Mima House a um automóvel: «O que fizemos foi criar uma casa “todo-o-terreno”, que, com pequenas alterações, pode viajar rapidamente, de forma económica e com todo o conforto, tanto numa auto-estrada como andar na montanha com neve, bastando para isso mudar apenas o tipo de pneus.» Uma amplitude de opções que, quando associada ao design, acendeu o rastilho do interesse dos mercados externos na casa. A falta de proximidade com a maior parte dos mercados interessados na Mima House fez com que, numa fase inicial, tivesse de ser negociada a cooperação com fábricas no estrangeiro.
No entanto, e na fase actual, estão a ser ultimadas as negociações para dar início à produção da casa que viajará em breve para os diferentes mercados. Assim, em conjunto com parceiros portugueses, a Mima Architects refez o módulo da Mima House de forma a que este seja produzido em Portugal e transportado para os diferentes países a partir de território nacional. O preço de base, esse, será sempre o mesmo, podendo ser alterado, consoante as opções de configuração dos clientes ou o local onde será implementada a casa. E se numa fase inicial o custo base associado à Mima House era de 43.700 euros, será revisto aquando da construção do referido segundo protótipo, pelo que, por agora, a Mima Architects prefere não adiantar valores.
Sabe-se já, no entanto, que o preço inclui toda a estrutura da casa, paredes, instalações, casa de banho e cozinha. O Brasil é o mercado que estará sob o olhar atento da Mima Architects. Quanto ao mercado nacional, asseveram os arquitectos, «é tão forte como os outros». «Numa época de crise, um produto low cost torna-se uma alternativa apetecível, permitindo o retomar de sonhos até então colocados de parte por falta de recursos. Mas estamos em crer que qualquer mercado é forte quando a qualidade se associa a um preço convidativo», vão contando os autores.
A Mima Architects começou a divulgar o módulo ao público no final do mês de Dezembro do ano passado. Para 2012 «o único objectivo é operacionalizar a comercialização de um produto com a máxima qualidade». O resto, como adiantam os responsáveis, «virá por acréscimo». Ambos os arquitectos envolvidos no projecto são portugueses, trabalham a partir da Suíça, têm escritório em Viana do Castelo e é ainda no Norte de Portugal que se produz a Mima House. A crescente procura pelo projecto poderá motivar a abertura de mais escritórios, ou mesmo uma descentralização. Uma possibilidade que se confirmará caso um dos mercados fortes da Mima Architects esteja demasiado distante para se conseguir ter controlo sobre ele, garantem Mário Sousa e Marta Brandão.
Passo a passo, peça a peça
Para encomendar e produzir a Mima House basta um computador. No site www.mimahousing.pt existe um espaço de configuração da casa, onde os utilizadores têm a autonomia acompanhada para conhecer e escolher o produto. Uma vez tomada a decisão podem, sem custos ou compromissos, pedir para receber a documentação da casa que projectaram, com uma maqueta e desenhos detalhados. Caso queiram comprar a casa, são realizadas reuniões para acertar pormenores e, aprovados todos os requisitos, é dado início à construção da Mima House, para posterior montagem no terreno.
Cada módulo dispõe de 36 m2 de área habitável e oferece uma infinidade de combinações, que não foram ainda contabilizadas, dado o elevado número de premissas em causa. É que, a qualquer momento, podem ser mudadas as paredes de uma casa, as suas cores, podem ser acrescentadas ou suprimidas divisões, criadas uma ou duas casas…
Disponível à data está, precisamente, a Mima loft, de 36 m2, que é por enquanto a “filha única” que a Mima Architects começará por comercializar.
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